Nunca fui (nem tampouco desejo
ser) boa conselheira, independentemente do âmbito do conselho: minhas sugestões
sentimentais são ruins, as financeiras, péssimas e nem adianta criar expectativas
para as estéticas; são piores ainda. Eis
que veio a mim, num dia desses, um amigo meio desanimado devido a falta de
grana que tem enfrentado desde que saiu de casa. Recebeu uma proposta de
emprego bem melhor, num lugar horrível e fora de mão, cujos horários
provavelmente atrapalhariam seus estudos. Respirei fundo.
‘Olha, não fique assim, ainda tem
alguns concursos, você pode tentar outras coisas, sempre tem uma
oportunidadezinha aqui e outra ali, vai dar tudo certo, no final sempre dá
certo... Até porque, no final, você vai morrer, mesmo.’ Parei por um segundo e pensei no que tinha
acabado de dizer. Aparentemente, não é vista com bons olhos a mensagem otimista
que fala sobre morte, mas ainda estou tentando entender o motivo disso. Afinal,
não vamos morrer mesmo? Até o presente momento, não vejo outra alternativa.
Em outras manifestações desse meu
pensamento torto, houveram protestos: “mas se a gente vai morrer mesmo, por que
não cavar um buraco no chão e enfiar a cabeça dentro?” Ora, mas é justamente
por saber que a gente vai morrer é que se matar se torna a coisa mais
desnecessária. Pode-se muito bem poupar o esforço e o tempo que se empreenderia
em tentativas de suicídio para usá-los em coisas bem mais divertidas, como por
exemplo brincar com um gato, ler um livro ou comer pudim. “Há muito mais pudim
entre o céu e a Terra, do que podemos pensar em comer”, já disse um sábio.
Portanto, primeiro passo: esqueça o suicídio, ele é desnecessário e se você
falhar, pode acabar se machucando feio, o que só causaria mais problemas.
Continuei a conversa com a
estimulante frase: A vida não passa de uma grande fila de espera para o eterno
consultório dentista que é a morte. Fui novamente contestada, onde é que já se
viu, se animar uma pessoa citando mortes e dentistas. Mas não há nada que se
possa ser feito: você sabe apenas que uma hora vai entrar naquela sala
lazarenta, pode ser que doa e meio que não tem como ser a melhor coisa do mundo.
Portanto, o que resta além de uns passatempos maneiros enquanto você ouve o
barulhinho horripilante das máquinas e finge que não sabe do que se trata? Tudo
depende da forma como você conduz sua fila de espera: tem gente que fica os
quarenta minutos lendo a revista Caras de 2007, e tem gente que tem ideias,
começa ou termina projetos. Você pode até conhecer um grande amor na fila de
espera, e pessoalmente, conheço casos que comprovam essa hipótese.
O segundo passo é não se prender
demais aos grandes impasses e relaxar: uma hora, você morre. Enquanto ela não
chega pra você, continue numa boa. No
final das contas, as pessoas ao redor estão no mesmo barco que você. A última
objeção foi sobre a demora, mas isso, creio que tenha sido bastante
esclarecido: o dentista está ocupado, outras pessoas estão na sua frente, sabe.
Dê o tempo, não banque o impaciente. A pressa é, além de inimiga da perfeição,
um grande mal presságio: quem tem
pressa, quer morrer logo.
Por fim, não seja mal educado com
as pessoas a sua frente: elas podem cuspir propositalmente em algum material
que o dentista vá usar em você, sem que ele veja. OK, este foi realmente um
conselho estranho. Mas serve pra ilustrar o que a revista Caras de 2007 pode
fazer com você.